A Virtualização dos Tempos Modernos nos Retornou ao Nomadismo?

As novas gerações (Y e Z) são acusadas pelos mais antigos de mergulharem muito fundo no mundo virtual da INTERNET perdendo, com isto, a capacidade de relacionamento com seus semelhantes e até mesmo com outras espécies do planeta. Será esta uma afirmação verdadeira? Os fatos e dados não sustentam esta alegação:

  1. As pesquisas de Solomon (2008) mostram que a geração Y é a mais diversa de todos os tempos, já que 35% são não brancos e tiveram suas estruturas familiares mudadas rapidamente. Hoje, um em cada quatro jovens de 21 anos foi criado por apenas um dos pais, e três tem uma mãe que trabalha fora do lar. Diferentemente de seus pais e irmãos mais velhos, a geração Y tende a manter valores relativamente tradicionais e acredita no valor da adequação ao invés da rebeldia, típica na geração X de seus pais;
  2. Bruno Pezzotti, coordenador de campo do IPS Univali, revela em sua pesquisa divulgada pela jornalista Bruna Nicolao (2014) que “O jovem só sai de casa a partir do momento em que está estruturado profissionalmente. Existe uma mudança nas noções de comportamento e recomposição de valores na sociedade. Há, principalmente, um fortalecimento da individualização nessa geração”. A pesquisa também mostrou que os jovens desta geração são muito habilidosos, mas com pouca experiência, necessitando serem desafiados para ganhar maturidade. Pesquisas realizadas com jovens na Europa e no Oriente apontam o mesmo comportamento identificado neste estudo. “A geração Y quer deixar sua marca, mostrar a identidade e os veteranos precisam deixar que os jovens errem e criem cicatrizes. Com esta exposição é que vão desenvolver experiência”, diz Sidnei Oliveira, consultor que também participou do processo;
  3. A INTERNET surgiu a partir de pesquisas militares nos períodos áureos da Guerra Fria (Época comandada pela geração dos Baby Boomers, pais da geração X e avós da Y). Na década de 1960, quando dois blocos politicamente antagônicos exerciam enorme controle e influência no mundo, qualquer inovação ou nova ferramenta poderia contribuir nessa disputa liderada pela União Soviética e pelos Estados Unidos: as duas superpotências compreendiam a eficácia e necessidade absoluta dos meios de comunicação. Hoje, a geração Y transformou esta ferramenta em instrumento de comércio sem fronteiras; de aproximação das pessoas de diferentes nacionalidades; de diversão, à medida que promove jogos em rede com gente de todo o mundo; de inclusão social; e de educação continuada.

Portanto, há algo de inconsistente na afirmativa de que quem usa muito a INTERNET carece de capacidade de relacionamento com seus semelhantes. Então qual seria o motivo para que a geração Y estivesse tão interessada na grande rede e nas tecnologias que a conecta à www (World Wide Web – Rede de Alcance Mundial)? Simplesmente não estaríamos redescobrindo nosso passado, quando desbravamos todo o planeta na condição de nômades?

Para Pierre Lévy (1996), “um movimento geral de virtualização afeta hoje não apenas a informação e a comunicação, mas também os corpos, o funcionamento econômico, os quadros coletivos de sensibilidade ou o exercício da inteligência. A virtualização atinge mesmo as modalidades do estar junto, a constituição do NÓS: comunidades virtuais, empresas virtuais, democracia virtual…Embora a digitalização das mensagens e a extensão do ciberespaço desempenhem um papel capital na mutação em curso, trata-se de uma onda de fundo que ultrapassa amplamente a informatização”.

Em seu livro, “O Que é o Virtual?“ (1996) Lévy também pondera que o computador é a nova máquina de ler, através da qual são apreciados os documentos criados em rede e transformados pelos leitores. O texto é instável, em constante mutação, uma janela sempre aberta para novas interpretações; dentro da grande rede o leitor escolhe onde navegar, indo além da linearidade dos textos em papel. A economia globaliza-se e os mercados tornam-se virtualizados. “A informação adquire valor de troca e fala-se em infoestrutura, onde a informação é a fonte ou a condição determinante para todas as formas de riqueza. Informação e conhecimento configuram-se como bens econômicos, em um metamercado integrado ao ciberespaço” (trecho de Nirlei Maria Oliveira descrevendo o livro de Lévy; disponível em http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/index.php/pci/article/view/70)

Quando um novo paradigma surge, invariavelmente acontece a relutância em aceitar o Novo, por quem se encontra na zona de conforto do Antigo, detendo o poder de fincar pé nos velhos hábitos, práticas e tecnologias. Do lado de quem abraça o Novo, esta relutância gera a necessidade de esticar a corda, de um exagero no trilhar o novo caminho, para que um equilíbrio entre as duas faces da moeda, o Novo e o Antigo, possam conviver num processo harmônico e gradual de substituição da velha roupa colorida, mas debotada, por uma nova de cores mais aderentes ao futuro, que vira presente de forma rápida e inevitável.

Em resumo, a geração Y não é menos estranha e incompreendida que os cabeludos da geração X com seus incontáveis protestos contra a sociedade de consumo dos Baby Boomers. Em verdade, extremamente inteligente e talentosa, adotou como ferramenta o nomadismo dos primórdios do homem no planeta, que o professor Geoffrey Blainey tão bem descreveu em seu livro “Uma Breve História do Mundo” (2004): “Moviam-se em pequenos grupos: eram exploradores e colonizadores. Em cada região desconhecida, tinham de adaptar-se a novos alimentos e precaver-se contra animais selvagens, cobras e insetos venenosos. Os que abriam caminho conseguiam uma certa vantagem, pois os seres humanos, adversários implacáveis dos invasores de território, não estavam lá para atrapalhar seu caminho… No decorrer dessa longa e lenta migração, a primeira de muitas na história da raça humana, esses povos originários dos trópicos avançaram para territórios bem mais frios, jamais conhecidos por qualquer de seus ancestrais…Durante longos períodos, as tribos pioneiras, que criavam hortas e tinham rebanhos, tiveram de coexistir com povos nômades. Viver lado a lado impôs tensão”. Talvez o bisneto do professor Blainey, numa espaçonave a caminho de Cygnus Prime, resolva escrever sobre a geração Y, que desbravou o mundo virtual, nos apresentando às sete maravilhas do mundo quântico, existentes, mas invisíveis ao nosso redor (http://hypescience.com/as-sete-maravilhas-do-mundo-quantico/). Por ora, as empresas que desejarem garantir seu futuro, devem preparar-se para entender e aproveitar a sabedoria desta geração, conectada por vocação e nômade por dever de ofício.

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