A Barca de Caronte nas Empresas

Caronte, na mitologia grega, é o barqueiro que carrega as almas dos recém-mortos para o Hades, o reino dos mortos, sobre as águas dos rios Estige e Aqueronte que dividem, segundo o mito, o mundo dos vivos do mundo dos mortos. Uma moeda para pagá-lo pelo trajeto era por vezes colocada dentro ou sobre a boca dos cadáveres, de acordo com a tradição funerária da Grécia antiga. Nos últimos anos, este personagem foi associado aos filmes de terror e a qualquer atividade aterrorizante, como as demissões em profusão que realizam algumas empresas quando suas situações financeiras encontram-se desequilibradas. Mas por que as empresas tomam tão rapidamente, sem aviso prévio ou sintomas, esta triste providência?

Cláudia Vassalo, na Carta ao Leitor da revista Exame da segunda quinzena de Maio de 2011, utiliza a frase “a fortuna normalmente nos conduz a imprudência” quando comenta sobre os problemas econômicos que rondam a parte latina, grega e britânica da Europa. Esta frase pode ser universalizada aplicando-se também às empresas bem sucedidas, que de repente entregam uma grande quantidade de almas profissionais à barca de Caronte. Uma empresa bem sucedida deve sempre se perguntar, do alto de seu pedestal de bons resultados, se está sendo conduzida à imprevidência: Se frequentemente quebra promessas aos seus clientes; se teve uma postura negativa numa negociação com seus fornecedores; se não acompanha com tanta frequência seus indicadores-chave de performance; se insiste em desdenhar seus processos operacionais e corporativos. Estas medidas insensatas podem acabar com a riqueza adquirida num momento anterior da empresa.

De acordo com Elizeu de Albuquerque Jacques, em seu artigo “O Controle Interno como Suporte Estratégico ao Processo de Gestão”, para evitar estas insipiências um Sistema de Controle Interno pode ser adotado, visando fornecer aos gestores informações precisas, com a finalidade de alocar recursos físicos, financeiros e humanos nas diversas divisões do ambiente de trabalho, para que seja controlada a execução das operações, com as seguintes medidas:

  1. Verificar e assegurar os cumprimentos às políticas e normas da companhia, incluindo o código de ética nas relações comerciais e profissionais;
  2. Obter informações adequadas, confiáveis, de qualidade e em tempo hábil, que sejam realmente úteis para as tomadas de decisões;
  3. Prevenir erros e fraudes. Em caso de ocorrência dos mesmos, possibilitar a descoberta o mais rápido possível, determinar sua extensão e atribuições de corretas responsabilidades;
  4. Registrar adequadamente as diversas operações, de modo a assegurar a eficiente utilização dos recursos da empresa;
  5. Assegurar o processamento correto das transações da empresa, bem como a efetiva autorização de todos os gastos incorridos no período.

Por outro lado, alternativas para desembarcar custos da empresa podem ser adotadas em vez de embarcar boa parte do “bem mais precioso da organização” no transporte do já celebrizado barqueiro. De acordo com o Instituto de Estudos Financeiros (IEF) a adoção de algumas medidas isoladas pode reduzir sensivelmente o custo de operação das empresas:

Buscar sugestões dos empregados: Os melhores resultados são obtidos quando os pedidos de sugestões são orientados para objetivos determinados (por exemplo, redução de consumo de água, energia elétrica, material de escritório etc.);

Renegociar contratos: Esta medida baseia-se na utilização do poder de barganha de que dispõe o contratante;

Eliminar o custo financeiro das compras faturadas: A organização compradora deve optar pelo pagamento à vista mediante a obtenção de um desconto no preço de compra;

Reduzir despesas financeiras: Diminuição do estoque da dívida; substituição de dívidas mais caras, contratadas há mais tempo, por outras mais baratas;

Aumentar o giro dos estoques: Vender mais rápido reduz a necessidade de capital de giro que por sua vez diminui os custos do financiamento do mesmo;

Mudar o regime de tributação: A mudança do sistema de lucro presumido para o regime de tributação pelo lucro real poderá propiciar redução do imposto de renda e contribuição social;

Comprar com base no lote econômico de compra: Os modelos de lote econômico de compra visam determinar a quantidade de compra que conduz ao menor custo total de posse do estoque;

Explorar as vantagens dos contratos de compra: Para alguns produtos ou serviços, a compra avulsa é antieconômica;

Usar materiais alternativos: Substituir um material em uso por outro de menor custo, mas que desempenhe a mesma função (valor) que o atual;

Eliminar desperdícios: Deve ser usada com rigor porque nem sempre os desperdícios são facilmente identificáveis;

Aumentar a produtividade dos recursos humanos e físicos: Reduzir os custos unitários de produção. Para um mesmo valor de gastos, deve-se obter um maior número de unidades de produtos ou serviços. Esta medida busca eliminar a ociosidade dos recursos disponíveis;

Otimizar a rota de entrega: Para as organizações que incorrem em custo logístico, a otimização da rota de entrega, quando uma mesma viagem destina-se a atender a várias entregas ou coletas, gera  redução do custo de transporte;

Fazer a substituição ótima de equipamentos: As máquinas e equipamentos têm uma vida econômica que é o número de anos ideal para que valha a pena mantê-los em operação. Este procedimento significa trocar equipamentos na época certa;

Implementar parcerias estratégicas: Parcerias ou associações estratégicas podem ser adotadas de modo a ganhar escala nas atividades de venda ou compra sem alterar o porte da empresa. O efeito será a redução de custos de compra, publicidade, serviços de apoio, etc.;

Mudar a localização da empresa ou unidade operacional: Custos logísticos, de pessoal, tributários e outros podem ser reduzidos com a mudança da localização da empresa ou de unidades operacionais.

Desta forma, as lideranças da empresa, responsáveis em primeira instância pelo seu bom desempenho, podem ter constante ciência de como caminha a organização, bem como evitar os difíceis períodos de pós-demissões nas diversas áreas da organização, que normalmente entram numa fase de depressão e baixa produtividade durante os 3 ou 4 primeiros meses de luto pelos companheiros demitidos, e em profunda reflexão sobre seu real comprometimento com a companhia.

Apesar de Caronte ter sido notabilizado até pela Escola de Samba Unidos da Tijuca, no carnaval de 2011, não parece interessante soar pelos corredores da empresa e pela cabeça de seus colaboradores, os versos: “Tá com medo de que? O filme já vai começar. Você foi convidado, Caronte no barco não pode esperar!”.

Para saber mais sobre o tema visite o site da Quântica Treinamento Empresarial em http://www.quanticaconsultoria.com

 

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