por Ciro Mendonça
Expulso do grande baú do medo, o dinheiro se transformará em uma espada fraternal para defender o direito de cantar e a festa do dia que chegou.
OS ESTATUTOS DO HOMEM – Art.XIII
Thiago de Mello
- Introdução
Contam que Dom Pedro Casaldáliga, que durante muitos anos foi Bispo emérito da prelazia de São Félix do Araguaia – MT, certa vez encerrou um sermão dizendo que “o medo de amar é o medo de ser livre”.
A afirmativa tocou a sensibilidade do poeta mineiro Fernando Brant que escreveu, em 1978, a letra de uma bela canção de autoria de um conterrâneo, o compositor Beto Guedes e cujo título tomou ipsis litteris a expressão usada por Dom Pedro Casaldáliga.
Vale transcrever alguns trechos da referida canção:
O medo de amar é o medo de ter
De a todo momento escolher
Com acerto e precisão
A melhor direção
O medo de amar é não arriscar
Esperando que façam por nós
O que é nosso dever
Recusar o poder
Ainda elucubrando sobre o medo, o ator norte-americano John Wayne, em um dos muitos filmes que atuou, protagonizou um diálogo memorável ao representar um veterano coronel do exército dos EUA, cuja cavalaria achava-se sitiada por um bando de índios.
Na cena, um jovem e assustado recruta estava ao seu lado, quando uma flecha flamejante cortou a escuridão da noite para explodir na estrutura de uma carroça próxima a ambos, fato suficiente para o rapaz descompensar e confessar: “Coronel, eu estou com medo”.
Foi então que aconteceu a resposta inesperada do velho Wayne: “Eu também! Esse sentimento não acaba nunca, rapaz! A diferença está na forma com que aprendemos a lidar com ele”.
- A Humanidade e o Medo.
A história da Humanidade também é a história de seus medos. Peste, fome e guerras assolaram os povos em todas as épocas, apenas com roupagem nova. O medo é um sentimento que açoita a Humanidade desde tempos imemoriais.
Ainda primitivo, sob o abrigo das cavernas, agrupados em torno do fogo, os homens sentiam o medo instintivo que provinha de coisas concretas, como de predadores ferozes, mas também já experimentavam o medo do incompreensível, como quando se deparavam com os fenômenos naturais, tempestades, cometas, estrelas cadentes, etc. Depois vieram os presságios, as pitonisas e os oráculos, todas tentando prever o futuro, mudar a sorte e fugir do medo, sobretudo o maior deles, o medo da morte, preço a pagar pelo dom da consciência que a nossa espécie desenvolveu e, através da qual, percebe e participa da criação, contemplando todo o seu esplendor e mistério.
Com o surgimento das divindades, o Homem tentou e, em parte, parece ter conseguido dar algum sentido e alguma explicação a sua própria existência, aplacando sua angústia, fonte intensificadora do medo.
- O Medo de Errar no Mundo Empresarial
Todas as especulações desenvolvidas no presente texto são extremamente úteis para avaliar o efeito demolidor que o medo inerente às pessoas é capaz de provocar no âmbito das corporações. Diante de tudo o que foi escrito, devemos admitir que o medo controlado pode ser saudável quando representa o instinto moderador que suscita reflexões e nos livra de decisões precipitadas ou intempestivas. Por outro lado, o medo excessivo e descontrolado de errar pode significar o freio da ousadia, cabresto curto da criatividade e do empreendedorismo. Num tempo em que o futuro e o sucesso das empresas dependem preponderantemente da inovação, torna-se fundamental o papel desempenhado pela liderança (mola propulsora) a incitar a equipe, infundir entusiasmo e confiança visando a liberar a energia criativa das pessoas. Superando o medo de errar, de cair no ridículo diante dos colegas, de comprometer sua imagem profissional e a própria carreira, o jovem estará apto a dar o melhor de si, emprestando todo o seu fervor e talento à empresa na qual atua.
- Conclusão
O escritor Mark Twain dizia que “a coragem é a resistência ao medo, o domínio do medo, não a ausência dele”.
Sempre haverá o medo, força paralisante e devastadora, e a sua percepção é importante. No dizer de Ghandi, “o medo tem alguma utilidade, mas a covardia não”.
- Referências
O MEDO – Texto de autoria de Marcos Mendonça, Professor de Clínica Médica da Universidade Federal Fluminense – Arquivo de Família.